A empresa Neuralink, fundada por Elon Musk e especializada em implantes cerebrais, anunciou na noite de quinta-feira que recebeu aprovação regulatória para realizar o primeiro teste clínico do seu dispositivo experimental em seres humanos.
A aprovação pela Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) marcaria um marco para a empresa Neuralink, que tem desenvolvido um dispositivo inserido cirurgicamente no cérebro por um robô, capaz de decodificar a atividade cerebral e conectá-la a computadores. Até agora, a empresa só havia realizado pesquisas em animais.
“Estamos entusiasmados em compartilhar que recebemos a aprovação da FDA para iniciar nosso primeiro estudo clínico em humanos!”, anunciou a Neuralink no Twitter, chamando-o de “um importante primeiro passo que, um dia, permitirá que nossa tecnologia ajude muitas pessoas”. Musk retuitou a postagem, parabenizando sua equipe.
A FDA geralmente não confirma aprovações para testes clínicos em humanos, mas ofereceu uma declaração na sexta-feira.
A FDA reconhece e compreende que a Neuralink anunciou que sua isenção investigacional para seu implante/robô R1 foi aprovada pela FDA e que agora pode iniciar os testes clínicos em humanos para o dispositivo”, afirmou um porta-voz da agência em comunicado na sexta-feira.
Musk já anunciou prematuramente aprovações regulatórias no passado. Em 2017, ele escreveu no Twitter que sua empresa de túneis, a Boring Company, havia recebido “aprovação verbal do governo” para construir um Hyperloop subterrâneo de Nova York a Washington, D.C. Na época, os funcionários não confirmaram diretamente a alegação de Musk – e ficou claro que não havia medidas formais para aprovar tal projeto.
O que é a Neuralink?
Fundada em 2016, a Neuralink é uma empresa privada com sede em Fremont, Califórnia, e um amplo campus em construção nos arredores de Austin. A empresa conta com mais de 400 funcionários e arrecadou pelo menos US$ 363 milhões, de acordo com dados da fornecedora de informações PitchBook.
Com o apoio de Musk, a Neuralink trouxe recursos extraordinários – e atenção dos investidores – para um campo conhecido como interface cérebro-computador, onde cientistas e engenheiros estão desenvolvendo implantes eletrônicos que decodificariam a atividade cerebral e a comunicariam para computadores.
Essa tecnologia, que está em desenvolvimento há décadas, tem o potencial de restaurar a função em pessoas com paralisia e condições debilitantes como esclerose lateral amiotrófica.
Empresas como a Blackrock Neurotech e a Synchron já implantaram dispositivos em pessoas para testes clínicos, e pelo menos 42 pessoas ao redor do mundo têm implantes cérebro-computador.
Esses dispositivos possibilitaram feitos que antes pertenciam ao mundo da ficção científica: um homem paralisado cumprimentando o Presidente Barack Obama com uma mão robótica; um paciente com ELA digitando apenas pensando nos movimentos das teclas; um paciente tetraplégico conseguindo caminhar com passos lentos, porém naturais.
Enquanto a maioria das empresas que buscam comercializar implantes cerebrais se concentra em atender às necessidades médicas, a Neuralink possui ambições ainda maiores: criar um dispositivo que não apenas restaure a função humana, mas a aprimore.
A tecnologia de chip cerebral da Neuralink consiste em um chip de computador revestido de eletrodos, que é implantado na superfície do cérebro, juntamente com um dispositivo robótico para realizar a cirurgia.
A Neuralink está seguindo uma abordagem mais invasiva e de alta largura de banda em comparação com alguns de seus concorrentes, apostando que sua configuração permitirá a transferência de dados do cérebro para o computador de forma mais rápida do que dispositivos com menos eletrodos ou que estão fora da superfície cerebral. Musk visualiza que os dispositivos possam ser atualizados regularmente.
“Tenho quase certeza de que você não gostaria de ter o iPhone 1 preso na sua cabeça se o iPhone 14 estiver disponível”, disse Musk durante um evento no final de novembro, onde ele previu que a Neuralink começaria os testes em humanos em seis meses.
Quando irão acontecer testes em humano?
Ainda não está claro quando os testes clínicos em humanos começarão.
Um registro de pacientes no site da Neuralink indica que apenas pacientes com certas condições – como paralisia, cegueira, surdez ou incapacidade de falar – são elegíveis para participar.
A interface cérebro-computador é uma das apostas mais ambiciosas de Musk em um império empresarial que abrange desde carros elétricos até foguetes que levam seres humanos ao espaço, e que recentemente se expandiu para incluir inteligência artificial generativa e redes sociais.